terça-feira, 20 de outubro de 2015

Apatia corporativa: uma inimiga perigosa das empresas!

Nota: Utilizei o termo "apatia corporativa" pela primeira vez em 2003, identificando-a como uma doença existente em muitas empresas. O interessante é que, de lá pra cá, muitos autores também passaram a utilizar tal terminologia!

 
No desenvolvimento de minhas atividades profissionais ao longo dos anos, tive a oportunidade de conhecer ou desenvolver trabalhos para muitas empresas em nosso país e desde muito cedo passei a interessar-me, como observador, em tentar compreender por que tantos empreendimentos são bem sucedidos enquanto tantos fracassam, por que muitos superam as barreiras, dificuldades e intempéries (que todo negócio enfrenta) com muito maior facilidade, por que tantas empresas parecem viver eternamente em crise, enfim por que tantos negócios nascidos numa mesma época, com mesmos objetivos e atuantes num mesmo segmento obtém resultados tão diferentes?

É evidente que as causas podem ser as mais variadas, mas essencialmente, o grande diferencial está na filosofia, atitudes e decisões de seus dirigentes e mais especialmente nas pessoas que fazem parte de cada uma dessas organizações. É exatamente como decorrência da questionável qualidade desses componentes que, muitas vezes, nasce uma das mais sérias "doenças corporativas", a qual instala-se gradual e lentamente, e geralmente não é percebida por aqueles que lá desenvolvem suas atividades, vindo a tornar-se uma "doença" crônica que pode levar a empresa à "morte". Estamos falando da APATIA CORPORATIVA!

Mas o que vem a ser a APATIA? No dicionário do Mestre Aurélio Buarque de Holanda encontramos:

"Apatia: 1. Estado de insensibilidade; impassibilidade; indiferença. 2. Falta de energia; indolência..."

Em outras palavras, a apatia é um estado de letargia, de desinteresse, de abatimento moral ou físico, de falta de ânimo, de desalento, de abatimento. Pode, também, ser entendida como a perda de ânimo, da coragem, do alento e do valor, bem como da falta de ação.

No ser humano, essas características ou sintomas são detectados em pessoas que passam por processos depressivos, levando-as à uma sensação de impotência para reagir diante das circunstâncias que as conduziram até aquela situação. Porém, todo o processo acontece com o tempo e a pessoa geralmente não se dá conta, vindo a apresentar muitas reações físicas, as quais, entretanto, são tratadas em seus efeitos e nunca em suas causas reais.

Na vida empresarial, as coisas não são muito diferentes, pois quantas companhias vivem o seu dia-a-dia completamente envolvidas em suas operações rotineiras, sem aperceber-se que, sorrateiramente, a apatia vai se instalando no ambiente de trabalho, criando um clima, que se não é inteiramente negativo, é no mínimo, contrário àquele desejável para qualquer organização séria.


Características da Apatia Corporativa


Certamente você, que agora está lendo este artigo, já teve a oportunidade de ser apresentado a alguém e sentir uma energia negativa ao receber o cumprimento ou aproximação de uma pessoa, ou quem sabe entrou em um ambiente (casa de alguém, um restaurante, uma loja, etc), em que tenha sentido um espectro de negatividade no local, ou ainda teve a oportunidade de visitar uma empresa onde, desde a portaria ou recepção, a energia ali presente não era saudável.


De outro lado, estou seguro que você também tenha tido a oportunidade de ter sido apresentado a alguém e ter sentido uma energia altamente positiva quando recebeu o cumprimento ou até mesmo só pela aproximação da pessoa, ou provavelmente já entrou num local desconhecido onde a receptividade e positividade foram absorvidos pelos seus sentidos naturais, ou quem sabe, teve a oportunidade de visitar uma empresa, onde seus sentidos notaram algo de bom já na portaria ou recepção.


Embora muitos de vocês, em função de suas crenças religiosas ou de outras origens, possam atribuir causas distintas para tais fatos, neste artigo, não entraremos nessa seara. Assim, baseado em nossas experiências e considerando que toda organização tem a sua própria personalidade, vamos relacionar algumas das características mais comuns (muito embora não sejam as únicas e podem variar) de uma empresa que pode estar sofrendo de APATIA:

* Instalações em geral (prédio, equipamentos, móveis, etc) mal conservadas;

* Atendimento frio aos visitantes (clientes, fornecedores, etc), por parte de seus colaboradores;

* Pouca comunicabilidade entre as pessoas, superiores e subordinados e/ou departamentos;

* Grande número de pessoas com expressão facial fechada, denotando tristeza ou preocupação;

* As pessoas quase não sorriem;

* Grupos conversando pelos corredores que se dispersam rapidamente diante da chegada de um superior;

* Alimentos de baixa qualidade servidos nos refeitórios (para aquelas empresas que fornecem);

* Ambientes de trabalho mal organizados;

* Fluxo do processo produtivo inadequado;

* Controles em geral inadequados ou ineficientes;

* Lentidão na solução de problemas;

* Colaboradores desempenhando a mesma função há muitos anos;

* Dirigentes com pouca acessibilidade;

* Muitas divergências entre os diretores ou gerentes;

* Benefícios muito limitados aos colaboradores;

* Inexistência de canais de comunicação eficientes entre a direção e os colaboradores;

* Planejamentos inexistentes ou mal elaborados e não divulgados;

* Falta de metas e objetivos claros;

* Inexistência de medidores de performance;

* Colaboradores não têm acesso às informações sobre os resultados.


Evidentemente, essa lista não esgota as características que podem estar presentes em uma empresa que esteja sofrendo de apatia. Mas o que leva uma empresa a esse estado?

Em realidade, trata-se de uma questão que não apresenta uma resposta objetiva, porém certamente existem fatores internos e externos ao ambiente de trabalho, tais como:


* Em relação aos colaboradores: contexto familiar, condições de moradia, remuneração insuficiente para satisfazer demandas básicas, falta de segurança, tempo despendido no trajeto casa-empresa-casa, dívidas contraídas, baixo nível de espiritualidade, formação educacional, falta de perspectiva, medo em relação ao futuro, etc.


* Em relação aos dirigentes: falta de acessibilidade, pouco diálogo, falta de disponibilidade para o estabelecimento de metas e objetivos claros, centralização de poder, egocentrismo, individualismo, visão de curto prazo, práticas diferentes dos discursos, tratamentos privilegiados, exibição de riqueza e/ou poder, baixo nível de espiritualidade, formação educacional, posicionamento ético, etc.


* Em relação ao mercado de atuação: existência ou não de informalidade ou paralelo, qualidade e atuação da concorrência, base instalada excessiva, baixa demanda, nível dos produtos fabricados ou comercializados, concorrentes com políticas de remuneração e benefícios superiores às praticadas pela empresa, etc.


Uma vez instalada, a apatia requer muita disciplina, coragem e determinação como antídoto para eliminá-la do ambiente e deve, entre outras coisas compreender:

* Planejamento e estabelecimento de metas e objetivos claros, com divulgação dos resultados alcançados;

* Implementação de medidores de performance compreensíveis e que possam ser acompanhados por todos;

* Implantação de sistemas de incentivo à qualidade e produtividade;

* Desenvolvimento de canais de comunicação em todos os níveis;

* Incentivo às atitudes pró-ativas;

* Prevalência da ética em todas as circunstâncias;

* Incentivo aos colaboradores para participar de projetos sociais;

* Incentivo às práticas esportivas;

* Incentivo na busca do desenvolvimento espiritual;

* Viabilização de perspectivas internas para o desenvolvimento pessoal e profissional;

* Incentivo à formação de grupos heterogêneos visando maior participação, envolvimento e comprometimento de todos os colaboradores;

* Realização de festas comemorativas que possam ter a participação de familiares dos colaboradores;

* Desenvolvimento de formas diferenciadas em relação aos benefícios praticados pelos concorrentes;

* Dirigentes devem rever hábitos que possam transparecer exteriorização de riqueza;

* Divergências no comando devem ser tratadas com respeito e profissionalismo;

* Diálogo entre superiores e subordinados deve ser incentivado;

* Incentivo à transparência nas relações entre as pessoas.

Todos sabemos que a insegurança trazida pelos medos construídos das incertezas do futuro, governos medíocres, políticas que privilegiam determinados grupos, classes ou pessoas e falta de segurança e de emprego, entre outros, alimentam negativamente nossas mentes de forma muito intensa, levando-nos a estados de apatia que podem ser transportados para o ambiente corporativo. Por isso, é responsabilidade de todo aquele que comanda os destinos de uma empresa, de um departamento ou de um setor, estar atento para as conseqüências desastrosas que essa "doença corporativa"pode gerar dentro de uma organização.

O Ser Humano foi, é e continuará sendo a razão do sucesso ou do fracasso de qualquer empreendimento. Ele faz a diferença! Assim, quanto maior for a sinceridade de propósitos, de práticas éticas, de elevados graus de espiritualidade e de atitudes que coloquem o Ser Humano em primeiro lugar nas organizações, maiores serão as chances de eliminar a apatia corporativa ou impedir a sua instalação.

Não aceite a apatia!

Esteja sempre atento aos "sintomas" que indicam sua presença, agradecendo a DEUS e vivendo com alegria, cada minuto de sua vida!

Bom trabalho e até breve!

Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de Empresas