Redigi este artigo na segunda quinzena de agosto/2015 e, portanto, minhas análises, tese e comentários são baseados na cotação do US$ em 31/07/2015. Outrossim, o artigo não tem a pretensão de discutir os efeitos do US$ mais valorizado, nem as oscilações havidas, causas ou políticas governamentais que interferiram(em) na sua cotação. Boa leitura e reflexão!
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Nos últimos meses temos sido constantemente bombardeados com notícias sobre a desvalorização do real diante do dólar e, em geral, os meios de comunicação destacam que a moeda norte americana atingiu sua maior marca nos últimos “X” anos. Apenas como exemplo, na noite de 25/08/2015, o Jornal Nacional noticiou: “Dólar fecha pela primeira vez, em 12 anos, acima de R$ 3,60!”
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Nos últimos meses temos sido constantemente bombardeados com notícias sobre a desvalorização do real diante do dólar e, em geral, os meios de comunicação destacam que a moeda norte americana atingiu sua maior marca nos últimos “X” anos. Apenas como exemplo, na noite de 25/08/2015, o Jornal Nacional noticiou: “Dólar fecha pela primeira vez, em 12 anos, acima de R$ 3,60!”
Ao mesmo tempo em que lemos e
ouvimos notícias desse tipo quase que diariamente, volta e meia algum
economista e/ou especialista é consultado a respeito e os posicionamentos,
invariavelmente, deixam as pessoas ainda mais confusas porque explicam o
assunto tecnicamente e com o uso de muitos termos que são desconhecidos pela
maior parte da população e – muitas vezes – até mesmo por pessoas com elevado
grau de instrução.
A realidade é que não se trata de um assunto de simples compreensão,
mas infelizmente, as formas como a maioria dos meios de comunicação têm tratado
do tema nas várias mídias vem contribuindo ainda mais na geração de
preocupações, ansiedades e incertezas das pessoas sobre como isso afeta o
presente e futuro do Brasil.
Como não sou economista nem
especialista no assunto, venho buscando encontrar uma forma de me comunicar com
as pessoas, ajudando-as a compreender (pelo menos um pouco) que a relação entre
a nossa moeda e o dólar sempre variará porque existem inúmeros fatores que
interferem, mas ao mesmo tempo, que essa
variação não deve representar nenhum fantasma capaz de assombrar ou levar medo
para a sociedade, desde que tenhamos
nossa economia tratada com responsabilidade por nossos governantes, mesmo que
em muitos momentos, venhamos a conviver com instabilidades temporárias, geradas
por fatores internos e/ou externos.
Considerações preliminares
Antes de abordar mais
objetivamente o tema deste artigo, permita-me tecer comentários sucintos sobre
alguns dos impactos que a taxa cambial
provoca em nossa economia:
1.
Como a cotação do dólar interfere diretamente
nas exportações e importações, as operações de milhares de empresas são
afetadas, positiva ou negativamente e, em muitas ocasiões, gerando expansão ou
retração dos negócios de inúmeras delas.
2.
Temos uma inflação mais acelerada que nos
Estados Unidos, e assim, a nossa moeda (R$) tende a se desvalorizar em relação
ao US$.
3.
Existe uma tendência de desvalorizar a moeda como forma de
política monetária, a fim de incentivar as exportações, diminuir as importações
e gerar um saldo positivo na balança comercial e consequentemente, no aumento
das reservas em moeda estrangeira .
4.
A taxa cambial é utilizada por instituições
financeiras como forma de algum tipo de investimento (ex: fundos de
investimentos cambiais, os quais têm por objetivo concentrar o investimento de
seus recursos em títulos relacionados à variação de preços de uma moeda
estrangeira ou de uma taxa de juros denominada cupom cambial).
5.
Quando os investidores internacionais têm uma
boa percepção sobre a estabilidade da economia, sentem-se estimulados a
investirem no país em novas empresas, aquisições, expansões, o que significa a
entrada de recursos que irão gerar mais empregos e contribuir para o
fortalecimento da economia.
6.
O investimento estrangeiro nas Bolsas envolve
inúmeras outras questões e, muitas vezes, são de caráter especulativo e,
portanto, de curtíssimo prazo.
7.
Em épocas em que as principais agências de risco
internacionais avaliam negativamente nosso país e não havendo nenhuma
intervenção por parte do Banco Central, nossa moeda pode se desvalorizar muito
mais rápida e acentuadamente. Como exemplo, lembramos que neste século, a maior
cotação do dólar ocorreu no dia 16/10/2002, quando atingiu R$ 3,91 (valor este
completamente desproporcional à realidade de nossa economia), em parte porque o
risco de investir no país cresceu na medida em que as reservas cambiais estavam
muito baixas e havia muita desconfiança em relação ao Presidente Lula. De outro
lado, inversamente e por conta de decisões equivocadas na gestão de nossa
economia, em Julho de 2011, o dólar foi cotado no seu nível baixo, ou seja: R$
1,54.
Feitas essas breves
considerações, vamos nos focar no tema proposto!
Afinal: o dólar está caro no Brasil?
Tentarei responder essa questão, não como um especialista, mas
como uma pessoa interessada no assunto e de uma forma que seja compreensível
para a grande maioria das pessoas, bem como baseado em aspectos que considero
relevantes para se chegar à uma conclusão com alguma consistência.
Sendo assim, considerei como base de minhas análises:
·
o período de 14 anos e 7 sete meses: 01/01/2001
a 31/07/2015;
·
o poder aquisitivo do R$ e do US$ nesses dois
momentos (considerando a inflação acumulada do período); e
·
a inflação acumulada brasileira e norte
americana, apuradas pelos índices IPCA (Brasil) e CPI (Estados Unidos – índice
oficial da inflação norte americana).
Importante: É lógico que quando analisamos o poder de compra e o
atualizamos com base na inflação, precisamos estar conscientes de que ele não
reflete a elevação dos preços de forma uniforme, até porque cada pessoa ou
família tem o seu próprio índice e quando expandimos para um país, seria
impossível mantê-la linear. De qualquer forma, no Brasil, após mais de 20 anos
do plano real, a indexação da economia ainda está presente em boa parte (incluindo
os salários) e continua dificultando o controle de preços (que deveria
basear-se principalmente na oferta e demanda).
Definidas tais bases, podemos inferir
que:
a)
O dólar abriu o ano iniciado em 01/01/2001
cotado a R$ 1,95.
b)
14 anos e 7 meses depois, em 31/07/2015, o dólar
fechou o dia cotado a R$ 3,425, sinalizando que nossa moeda desvalorizou-se 75,64%
no período.
c)
A inflação brasileira acumulada nesses 14 anos e
7 meses foi de 157,62%, sinalizando que um salário de R$ 1.000 em 01/01/2001
equivaliam – em termos de poder de
compra - a R$ 361,49 em 31/07/2015.
d)
No mesmo período, a inflação norte americana
acumulou 35,18%, sinalizando, portanto, que um salário de US$ 1.000 em
01/01/2001 equivaliam – em termos de
poder de compra nos Estados Unidos
- a US$ 733,77 em 31/07/2015.
e)
De outro lado, os R$ 1.000 iniciais, atualizados
pela inflação brasileira acumulada até 31/07/2015 representam R$ 2.576,16,
enquanto os US$ 1.000 iniciais, atualizados pela inflação norte americana
significam agora US$ 1.351,78.
f)
Em 01/01/2001, os R$ 1.000 possibilitavam
“comprar” US$ 512,82 enquanto que, em 31/07/2015, os históricos R$ 1.000
“comprariam” apenas US$ 291,97.
g)
Assumindo que o salário de R$ 1.000 inicial foi
atualizado pela inflação brasileira e representa R$ 2.576,16 (em 31/07/2015), esse novo montante (convertido
pela cotação atual de R$ 3,425) equivale a US$ 752,16.
h)
Já o salário inicial de US$ 1.000, que valia R$
1.950 em 01/2001 e, atualizado pela inflação norte americana acumulada,
representa agora US$ 1.351,78, uma vez convertido pela cotação de R$ 3,425,
equivale a R$ 4.629,85.
CONCLUSÕES:
Diante de todas essas
constatações e, ressalvando a questão da inflação conforme destacado anteriormente,
podemos concluir que:
1.
Em Janeiro/2001, com R$ 1.000 podíamos “comprar”
US$ 512,82 e, para comprar os mesmos
dólares em Julho/2015, precisamos de R$ 1.756,40;
2.
Em Julho/2015, precisamos de R$ 2.576,16 para
manter o mesmo poder de compra no mercado brasileiro, equivalentes aos R$ 1.000
de Janeiro/2001;
3.
Em Julho/2015, com os R$ 2.576,16, podemos
“comprar” US$ 752,16, significando
que atualmente dispomos de um poder de compra maior em US$ 239,34;
4.
De imediato, parece que a inflação ajudou-nos a
poder “comprar” mais dólares, mas...
5.
Em Janeiro/2001, com US$ 1.000 podíamos convertê-los em R$ 1.950 e, para dispor dos
mesmos US$ 1.000, em Julho/2015, agora
é preciso R$ 3.425;
6.
Em razão da inflação norte americana, o poder de
compra de US$ 1.000 em Janeiro/2001 dentro
dos Estados Unidos, equivale a US$
733,77 em Julho/2015, significa que o dólar desvalorizou-se localmente em US$ 266,23;
7.
Diante do exposto, parece-nos coerente
afirmarmos que a maior quantidade de dólares (US$ 239,94, conforme item 3) que conseguimos “comprar” em Julho/2015, refere-se a maior parte da
desvalorização da moeda norte americana (item
6), permitindo assim, manter uma relativa paridade em termos de poder de
compra da nossa moeda (devidamente convertida para US$) dentro dos Estados
Unidos;
8.
Finalmente,
concluindo e respondendo a questão do título deste artigo, entendo que a
cotação do dólar de R$ 3,425 em 31/07/2015, está dentro de um limite aceitável
e consistente com a manutenção do poder de compra do Real em relação ao Dólar, e
poderia, inclusive, chegar até a R$ 3,51.
Lembro, mais uma vez, que não se trata de um tema de
simples compreensão, mas espero que esta abordagem tenha trazido mais um pouco
de luz no assunto e possa ajudar os “não especialistas” a avaliar melhor e
saber quando o dólar está caro ou barato.
Bom trabalho!