quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O lider acima de qualquer suspeita

Quanto mais amadurecido na vida e profissionalmente, mais surpreendo-me com o instigante e desafiador “mundo” da gestão empresarial.

Algumas semanas após ter escrito o artigo "Lider: um ser cada vez mais raro!",  passei por uma daquelas grandes livrarias e resolvi comprar o livro que - na época - estava há mais de trezentos dias entre os dez mais vendidos, já na sua 12ª edição: “O Monge e o Executivo – Uma história sobre a essência da liderança”, de James C. Hunter.

De leitura fácil e agradável, rapidamente devorei as 139 páginas de seu conteúdo. A cada página virada, mais reforçada ficava minha sensação de que o artigo que escrevera há tão pouco tempo estava incompleto, muito embora tivesse a firme convicção da qualidade da mensagem nele contida, uma vez que abordei o tema com objetividade e destaquei vários aspectos e características observadas nos melhores líderes empresariais e que têm sido estudadas pelos  especialistas e escolas de administração.

Como enfatizara no texto, as recomendações não garantiria à ninguém a certeza de se tornar um grande lider, porém, ajudaria a pessoa no comando, a ser mais respeitada e com melhores perspectivas para obtenção de resultados superiores. Mas isso era (ou é) suficiente?

Se, por um lado, aquela sensação de uma mensagem incompleta me incomodou, de outro me incentivou a retornar ao assunto, pois para alguém que sempre acreditou na essência e valor do ser humano, senti-me na obrigação de apresentar outras abordagens sobre o verdadeiro LIDER – que eu considero acima de qualquer suspeita : 
  • sem a objetividade  e pragmatismo do artigo anterior, mas com tons de sabedoria suficientes para conduzir o leitor à reflexões;
  • sem qualquer enfoque religioso, mas tomando emprestado alguns ensinamentos bíblicos; e
  • com “pinceladas” que podem transparecer um certo romantismo, sem no entanto beirar a pieguice.
 
Assim sendo, tendo como base o livro citado, nas próximas linhas quero compartilhar com vocês, um pouco desse  LIDER - estritamente no âmbito das empresas  -  e mostrar que é possível sim construir e exercer uma liderança vitoriosa, mesmo que para muitos esse modelo seja irreal e incabível diante das exigências atuais dentro das organizações.

Um dos precursores da Sociologia (Max Weber), há muitos anos já apresentara as profundas diferenças entre  Poder e  Autoridade”.   

Sintetizando essas diferenças no âmbito das empresas, podemos afirmar que:
 
  • o Poder se manifesta quando alguém força ou coage uma pessoa ou grupo a fazer algo que deseja em razão de seu cargo ou posição que ocupa na estrutura da organização; e
  • a Autoridade surge pela habilidade de conduzir uma pessoa ou grupo a fazer - de boa vontade – o que se deseja, simplesmente em razão da capacidade e influência pessoal.
 
Tenho a convicção de que você concorda comigo na seguinte afirmação: a grande maioria dos Executivos, Gerentes, Supervisores ou Chefes exercem suas lideranças baseadas exclusivamente no Poder !   Essa é, infelizmente, uma das principais causas da insatisfação das pessoas dentro de nossas organizações.

Baseada na escala de poder, foi sendo construída ao longo dos anos a hierarquia organizacional tradicional: presidente, diretores, gerentes, supervisores / chefias e demais funcionários, sem qualquer preocupação em relação as habilidades para o exercício da autoridade.

Se tomarmos como exemplo um dos maiores líderes da história da humanidade: Jesus, constataremos que ele construiu sua liderança - com autoridade -  baseada em dois princípios: o Amor e o Servir.

Mas o que o  Amor, como sentimento, magnânimo em sua plenitude nas relações humanas pode contribuir nesse mundo capitalista e competitivo dentro das empresas ?
- É exatamente aqui que descobrimos um sábio ensinamento do significado do amor na palavra grega “AGAPE”, que pode ser traduzida como a manifestação do amor incondicional, baseado no comportamento com as outras pessoas, sem exigir absolutamente nada em troca. Assim por maiores que possam ser as diferenças ou divergências que um Lider tem em relação às pessoas de sua equipe, é através de seu  comportamento que ele conseguirá  conquistar o respeito e admiração de todos, exercendo então a liderança com autoridade.
Que formas de  comportamentos estamos nos referindo :
 
·        Sendo paciente em todas as circunstâncias, mantendo um auto-controle que inspire a serenidade mesmo nas situações mais tensas e difíceis.
 
·         Sendo bondoso, dispensando atenção e apreço por todas as pessoas, independente do cargo ou posição hierárquica e incentivando-as ao desenvolvimento profissional e crescimento pessoal.
·        Exteriorizando uma humildade verdadeira, com autenticidade em todas as circunstâncias...sem orgulho...sem arrogância.
 
·        Respeitando todas as pessoas (do menor ao maior nível hierárquico), tratando-as com dignidade, educação e fazendo-as sentirem-se importantes.
 
·        Sendo generoso, buscando, com real interesse, conhecer e satisfazer as necessidades de seus comandados.
 
·        Incentivando, desenvolvendo e praticando verdadeiramente o perdão, não permitindo nenhuma forma de ressentimento, mesmo nas situações mais adversas no dia-a-dia da empresa.
·        Sendo absolutamente honesto em suas palavras e atitudes, não simulando “situações” ou  “enganos” intencionais com propósitos escusos.
 
·        Mantendo o compromisso de lutar por uma causa, com um grau de  comprometimento absoluto e  dedicado  ao crescimento de seus liderados.
 
Com tais práticas comportamentais por parte do Lider, seguramente construir-se-á junto aos comandados, um alto grau de percepção baseada no SERVIR.  Assim, o ato de liderar passa a representar um verdadeiro serviço ao próximo. Entretanto, o ato de servir depende da intenção com a ação, transformando tal conjunção na vontade de servir, tornando possível a estruturação do seguinte modelo de liderança:
 
                       
                                               L I D E R A N Ç A
                                   AUTORIDADE / INFLUÊNCIA
                                              
                                                    SERVIÇO

 
                                               AMOR (AGAPE)

                                                   VONTADE

 
Tudo isso pode parecer impossível em nossos dias, porém é preciso acreditar e tornar possível tal modelo, lembrando que quando falamos do “amor ao próximo” não estamos nos referindo ao “sentimento”, pois como tal  é (ou pode ser) passageiro e fugaz,  enquanto que baseado no comportamento, ele se edifica no compromisso / comprometimento e assim se sustentando perenemente.
 
Essencialmente, a maioria dos problemas dentro de nossas organizações não está (sob a ótica tradicional) na base da pirâmide, mas geralmente no topo dela. Isso decorre dos valores construídos em bases distorcidas e equivocadas, mas que são suficientemente fortes e capazes para deteriorar e até destruir relações humanas saudáveis.
 Vivemos hoje um momento singular na história da humanidade, a qual nos apresenta uma grande oportunidade de transformação para nossas organizações.  Nossas lideranças estão “em xeque”!  A oportunidade está nas escolhas que cada lider tem que fazer: continuar liderando com base no poder ou desenvolver as habilidades naturais que possam conduzi-lo a conquista do respeito com autoridade. 

Para desenvolver a capacidade do amor (agape) baseado no comportamento, é preciso coragem em primeiro lugar, pois as estruturas hierárquicas continuam resistentes e, por melhor que venha a ser a intenção, se não houver ações concretas, tudo não passará de pura fantasia. Em segundo lugar, é preciso desvencilhar-se das próprias amarras do individualismo, egoísmo e interesses pessoais e passar a ter o desejo sincero de identificar e satisfazer as necessidades de seus comandados, conciliando tudo com objetivos e interesses saudáveis de acionistas ou cotistas das organizações.
 
Que esse “outro lado” da moeda chamada liderança seja uma realidade dentro de sua empresa e que, como lider, você jamais sofra um “xeque-mate”!


Autor: Carlos Alberto Zaffani - Consultor em Gestão de Empresas

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cuidados a serem tomados na construção da carreira profissional

Entrevista que, inicialmente, concedi para a intranet de uma grande instituição financeira e que também foi publicada no site do Cenofisco. Nela, abordo vários aspectos sobre os cuidados a serem tomados na construção de uma carreira profissional, bem como em relação aos ciclos dessa trajetória.


1 – Muitas pessoas acham que os anos passam rápido demais. Isso é verdade ou somos nós que decidimos o ritmo de nossas vidas?
R:  Inicialmente, a sensação do tempo passando rápido demais é uma realidade cada vez mais presente em nossos dias  - especialmente para quem vive nas grandes cidades - porque estamos expostos a inúmeros “agentes” (trabalho, estudo, trânsito, insegurança, meios de comunicação, Internet, etc) que atuam como aceleradores de nossa vida. De outro lado, cada um de nós pode dosar tal “aceleração” através de atitudes, posturas e comportamentos que exigem disciplina, persistência, serenidade e muita dedicação pessoal. 

2 – Se colocarmos o pé no acelerador, não corremos o risco de deixar passar coisas importantes? E se pisamos no freio não podemos levar a vida em marcha lenta, o que pode ser fatal para a carreira?
R:  Assim como na direção de um veículo possante, se acelerarmos demasiadamente, poderemos até chegar mais rápido no destino, porém correremos o sério risco de provocarmos um acidente e demorarmos muito mais para chegar onde desejamos. Por isso, sou partidário do equilíbrio na dosagem com que programamos a nossa jornada de vida profissional, ora acelerando na busca dos objetivos de curto prazo e ora mais lentamente, na consecução de nossas metas de longo prazo.

Atualmente, percebo nos jovens, uma necessidade muito forte de crescimento rápido, porém, quase sempre, sem a devida consistência na formação e experiência, o que tem contribuído para muita decepção, tanto para o profissional quanto para as organizações.

3 - Quais são os ciclos da vida profissional? Eles realmente têm a ver com a idade? Qual é a relação que se pode fazer? Como o profissional pode administrar os ciclos?

R:  Podemos sintetizar os ciclos da vida profissional em quatro momentos, ou seja:

·         aqueles que estão iniciando a carreira;

·         aqueles que estão no meio da carreira, porém com falta de perspectivas de crescimento;

·         aqueles que estão no meio de uma carreira ascensional; e

·         aqueles que estão na fase final de suas carreiras

Entendo que não existe uma regra estabelecida em relação à idade, porém da mesma forma que um profissional muito jovem dificilmente chega a um cargo de direção com pouca experiência, um outro com uma certa idade e muitos anos numa mesma posição hierárquica em nível de assistente ou encarregado, alcançará uma posição executiva.

Cada profissional precisa fazer sua autoavaliação sobre o seu momento, onde se encontra e a partir daí, direcionar os passos subsequentes para encerramento ou não de um ciclo.

 4 – Quais são as reflexões mais importantes (ou as perguntas) que deve fazer ao encerrar um ciclo e iniciar outro?

R: Eu diria que , essencialmente, o profissional precisa refletir e responder uma pergunta básica: estou feliz e realizado na minha vida profissional? Se for negativa, faz-se necessário encontrar respostas conclusivas (isso pode ser feito com a aplicação dos “por quês?” até que não exista mais nenhum) e então estabelecer os passos e/ou ações seguintes.
Se a resposta à pergunta básica for positiva, reavalie se seus objetivos continuam claros e continue a jornada.

 5 – Muita gente deixa a decisão sobre suas vidas para amanhã e esse amanhã nunca chega ou chega tardiamente. Tomar decisões e mudar é difícil, mas quais riscos essa postura traz?
R: Na verdade, a maioria dos seres humanos tende a procrastinar suas decisões, “deixando” para outro dia ou para um outro tempo que nunca chega e, com isso, passa a conviver com vários ciclos “em aberto”, os quais acabam contribuindo negativamente nos vários contextos da vida.

Todos nós tomamos decisões em vários momentos de nosso dia-a-dia e não nos apercebemos disso. Todavia, no campo profissional, é comum deixar para amanhã, depois ou nunca e, isso é um dos maiores erros que podemos cometer. Quantos profissionais, por medo ou acomodação, passam a vida infelizes,  simplesmente porque foram incapazes de tomar decisões que envolviam algum risco. Nesse ponto lembro que o risco é parte integrante da trajetória de todo profissional que quer crescer!

 6 – Quais são as consequências da má gestão de carreira?
R: A má gestão de carreira e dos ciclos da vida profissional pode conduzir a pessoa a um estado de exaustão prolongada e consequente diminuição do interesse em relação a todas as coisas que se relacionam ao trabalho. Na medida em que os ciclos profissionais não são fechados, crescem os problemas de relacionamento com as chefias e demais colegas, caem o desempenho e o grau de cooperação com a equipe e aumentam os conflitos internos.

Acredito que as pessoas que conseguem desenvolver uma boa gestão de carreira e dos ciclos da vida profissional se fortalecem e “acumulam energia” que as ajudam a resolver os problemas e superar as barreiras e dificuldades com naturalidade. Apesar de concordar que ser resiliente é uma questão de atitude, tenho certeza que, gerir competentemente a carreira e os ciclos da vida profissional, encerrando-os no tempo certo ou quando as circunstâncias impuserem, irá ajudá-lo a fortalecer seu grau de resiliência.

7 – O que você recomendaria para: os jovens em início de carreira; para aqueles que estão no meio de uma carreira ascensional; para os que estão na fase final de carreira?
R:   Para aqueles que estão em inicio de carreira, recomendo um “planejamento de ciclos”: a estruturação de como se pretende construir a carreira ao longo dos anos. Para tanto, é preciso projetar e estabelecer metas (com prazos) até onde se quer chegar e os meios necessários. Recomendo que jamais se esqueça de que o medo pode ser um dos maiores obstáculos para o encerramento de um ciclo.

Para os que estão no meio da carreira, mas estagnados, minha recomendação é fazer uma “revisão dos ciclos” e planejar os “novos” necessários para uma retomada do desenvolvimento profissional. Para estes lembro que, além do medo, a acomodação pode ser o principal adversário de seu progresso.

Para os que estão crescendo na carreira, recomendo fazer uma “reflexão dos ciclos passados” e a forma como cada um deles foi concluído, extrair os melhores ensinamentos e projetar os “novos”, ainda com maior consistência. Mas, cuidado! Com uma carreira vitoriosa até aqui, certamente o medo não marcou presença em sua trajetória, porém não se esqueça que, se de um lado a confiança é uma das principais qualidades dos profissionais vitoriosos, o seu excesso poderá criar uma “cortina” que impedirá a visão realista dos ciclos atuais e futuros de seu desenvolvimento.

Para aquele que está em final de carreira, independentemente se foi um  profissional de grandes conquistas ou não, lembre-se, em primeiro lugar, que o encerramento de uma carreira deve representar apenas o final de um dos ciclos da vida e assim como o nascer do sol anuncia um novo dia, a perspectiva do final da carreira deve ser o incentivo para a formulação de um (ou vários) ciclo que contemple aspectos que possam trazer bem estar, prazer, realização e crescimento interior.

Para quem se encontra nesse estágio da vida profissional, é essencial a formulação de ciclos que privilegiem a família, a sociedade (representada pelos seres humanos mais carentes), a saúde e a espiritualidade.

Bom trabalho e até breve!

Entrevistado: Carlos A. Zaffani  -  Consultor em Gestão de Empresas